No dia 18 de abril a FIESP divulgou seu “Plano de Retomada da Atividade Econômica Após a Quarentena”. Neste seu plano, a FIESP chama de “distanciamento social seletivo” o que na verdade se assemelha ao “isolamento vertical” proposto pelo presidente Bolsonaro.
Alguns dias depois, em 22 de abril, o governador João Doria anuncia a flexibilização da quarentena no Estado de São Paulo à partir de 11 de maio.
Ontem, dia 27 de abril, o prefeito Jonas Donizette anunciou o seu “Plano de Monitoramento da Pandemia de Covid-19 em Campinas e Flexibilização do Distanciamento Social”. Com um agravante: antecipou o início da execução para dia 4 de maio, 1 semana antes do plano do governador Doria.
Curiosamente, o plano do Jonas possui algumas semelhanças com o plano da FIESP: ambos mencionam 3 fases de 14 dias cada, num total de 42 dias de abertura gradual.
Curiosamente, no dia 18 de abril o vereador Marcos Bernardelli (PSDB), atual presidente da Câmara Municipal, publicou em sua rede social uma foto de um encontro entre ele, o prefeito e Adriana Flosi, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas. Na legenda, a informação de que estavam pleiteando junto ao Comitê de Enfrentamento ao Covid-19 a abertura parcial do comércio.
Curiosamente, e este texto já está cheio de “curiosidades”, o prefeito antecipa para o dia 4 o início da abertura ao comércio, antes portanto do dia das mães.
Até onde sabemos, nenhum movimento popular da saúde ou representação sindical de trabalhadores foram ouvidos pelo prefeito.
É Hora de Flexibilizar a Quarentena?
Em primeiro lugar, o governo municipal parece desconsiderar que a curva de crescimento de infectados/mortes ainda está em ascensão. Por tudo que já vimos nos países que enfrentaram a pandemia antes do Brasil, com crescimento exponencial não se brinca.
Um estudo divulgado pelo New York Times revelou na semana passada que um atraso de 2 semanas na decisão de implementar a quarentena custou 54 mil vidas. Uma simples decisão a favor do isolamento social poderia ter evitado o morticínio. Mas Trump, a exemplo de Bolsonaro, preferiu zombar.
Outros pontos a serem questionados são as condições precárias de trabalho na saúde, com falta de EPIs; e a falta de testes em massa. Sem garantir a integridade dos trabalhadores da saúde e sem saber qual o real impacto da pandemia na cidade, pensar em flexibilizar o isolamento é um tiro no escuro.
A estreita proximidade de Campinas com São Paulo, onde a pandemia parece muito menos controlada e o colapso de hospitais e cemitérios muito mais próximo, faz a ideia de que Campinas pode adotar uma saída isolada parecer mera ilusão.
Os trabalhadores que temem perder o emprego e por isso querem retornar ao trabalho, precisam compreender que cabe ao governo a garantia de seus empregos e salários.
A economia já não ia bem, com dólar e desemprego nas alturas. O que vai aprofundar a crise a um patamar sem precedentes não é o isolamento social, mas sim a pandemia. Negar a realidade que se impõe sobre nós custará a vida de muitos trabalhadores, com um impacto muito mais devastador para a economia.
(*) GUIDA CALIXTO é monitora infantil na Secretaria Municipal de Educação em Campinas e Advogada.